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Vulnerabilidades da cadeia de suprimentos aos riscos climáticos

Os recentes eventos climáticos que devastaram grande parte do Rio Grande do Sul trouxeram à tona um debate crucial para o setor empresarial: “quão vulnerável é o seu negócio diante de eventos extremos?”. Mesmo que sua empresa esteja localizada fora da região atingida, é difícil não se solidarizar com os diversos comércios, indústrias e empresas […]

Os recentes eventos climáticos que devastaram grande parte do Rio Grande do Sul trouxeram à tona um debate crucial para o setor empresarial: “quão vulnerável é o seu negócio diante de eventos extremos?”.

Mesmo que sua empresa esteja localizada fora da região atingida, é difícil não se solidarizar com os diversos comércios, indústrias e empresas que, no momento, somam prejuízos de toda ordem e ponderam sobre como — e se — conseguirão se recuperar.

Esse cenário desolador serve como um alerta sobre a vulnerabilidade das cadeias de suprimentos diante de riscos climáticos e eventos extremos. As empresas, abrangendo todos os setores, precisam identificar e gerenciar proativamente esses riscos para assegurar a resiliência e a continuidade dos negócios. Este artigo oferece uma análise sobre o impacto dos eventos climáticos nas cadeias de suprimentos, explica as etapas para avaliar os riscos e sugere estratégias de mitigação.

Impacto dos eventos climáticos nas empresas

Quando se fala em riscos climáticos, devemos pensar numa ampla gama de cenários, desde eventos extremos – a exemplo das enchentes, geadas ou secas, até mudanças como aumento do nível do mar e desertificação. Eventos de calamidade pública, geralmente, vêm acompanhados de impactos significativos nas cadeias de suprimentos: danos à infraestrutura de transporte e logística, interrupção de fornecimento de serviços básicos (como energia ou água) e as dificuldades enfrentadas pelos próprios colaboradores são apenas alguns dos exemplos que afetam a produção e podem causar escassez de recursos.

Mas, será que todas as empresas se afetam da mesma forma? Dificilmente. É por isso que cada negócio precisa avaliar o seu próprio contexto, mapeando sua cadeia e identificando os gargalos e riscos nela contida. Por exemplo: empresas que dependem de insumos agrícolas, como alimentos e bebidas, têxteis e biocombustíveis, são especialmente vulneráveis a eventos climáticos que afetam as safras. Já empresas de setores dependentes de infraestrutura e logística, como construção, mineração, transporte e energia, são negócios que dependem fortemente de estradas, portos, ferrovias, dutos e redes elétricas para operar.

Portanto, eventos climáticos como inundações, secas severas e incêndios florestais podem danificar seriamente essa infraestrutura crítica, interrompendo o fluxo de suprimentos e causando grandes perdas financeiras. Desta forma, setores dependentes de infraestrutura e com operações concentradas em regiões climaticamente expostas, precisam priorizar a gestão de riscos climáticos em suas cadeias de suprimento.

Avaliação de riscos

Uma avaliação de riscos climáticos completa envolve mapear tanto os riscos físicos quanto os riscos de transição para a cadeia de suprimentos.

Os riscos físicos são os eventos climáticos em si, como inundações, secas, chuvas de granizo, vendavais e incêndios florestais. Eles podem danificar instalações, interromper operações e transporte, e reduzir a disponibilidade de matérias-primas.

Já riscos de transição são as mudanças políticas, legais, tecnológicas e de mercado impulsionadas pela mudança climática. Por exemplo, regulamentos mais rígidos sobre emissões ou impostos de carbono podem aumentar os custos operacionais. A mudança nas preferências dos consumidores por produtos sustentáveis também é um risco de transição.

Mapear esses riscos ao longo da cadeia de suprimentos – desde fornecedores até armazenamento, transporte e distribuição – fornece uma imagem completa das vulnerabilidades. Isso permite que as empresas priorizem os riscos mais importantes para gerenciamento. Realizar esse mapeamento regularmente também ajuda a identificar novos riscos à medida que surgem.

Riscos físicos

Os riscos físicos representam danos diretos causados por eventos climáticos extremos, como vendavais, enchentes, secas, ondas de calor etc. Esses eventos podem danificar instalações, estoques, maquinários e infraestrutura de transporte, além de afetar o capital humano.

Portanto, os riscos físicos representam ameaças significativas à continuidade das operações e à capacidade de entrega das empresas. Mapear a frequência e severidade desses eventos faz parte do gerenciamento de riscos físicos e é fundamental para a resiliência da cadeia de suprimentos.

Diversas ferramentas e metodologias podem auxiliar na avaliação de riscos climáticos. Algumas opções são:

  • Relatório de Avaliação do IPCC (IPCC Assessment Report): elaborado por um painel de especialistas em mudanças climáticas, o IPCC Assessment Report fornece uma avaliação abrangente da ciência do clima, incluindo projeções para o futuro.
  • Metas Baseadas na Ciência (SBTI): esta iniciativa oferece um framework para que as empresas definam metas de redução de emissões de gases de efeito estufa alinhadas com os objetivos do Acordo de Paris.
  • Análise de Riscos e Oportunidades Climáticas:  é uma ferramenta desenvolvida pelo World Resources Institute (WRI) que ajuda as empresas a identificarem e avaliarem os riscos e oportunidades relacionados às mudanças climáticas em seus negócios.

Riscos de transição

As mudanças climáticas também trazem riscos de transição, decorrentes de eventuais medidas tomadas pelos governos ou sociedade. Entre eles, podemos destacar:

Mudanças regulatórias: políticas governamentais, como impostos sobre carbono ou restrições às emissões, podem impactar os custos e operações.

Mudanças tecnológicas: a transição para tecnologias de baixo carbono pode exigir mudanças nos processos produtivos e logísticos.

Mudanças no mercado: existe uma demanda crescente por produtos e serviços sustentáveis. As empresas estão, portanto, diante do desafio de se adaptar e inovar em suas ofertas para atender a essas expectativas voltadas para a sustentabilidade.

– Mudanças na reputação: na era da informação e da responsabilidade corporativa, consumidores e investidores monitoram intensamente as práticas sustentáveis das empresas. Uma gestão ineficaz dos riscos relacionados à sustentabilidade pode resultar em danos significativos à reputação e valor de mercado de uma empresa.

Estratégias para mitigar riscos

As empresas podem adotar várias estratégias para mitigar os riscos climáticos em suas cadeias de suprimento, como:

Diversificação: diversificar fornecedores, rotas de transporte e instalações pode reduzir a dependência de qualquer elo único. Ter múltiplas opções provê redundância se um elo for impactado por eventos climáticos.

Flexibilidade: ter planos de contingência, capacidade ociosa e opções de roteamento alternativas permite que a cadeia se adapte rapidamente a interrupções. Isso inclui contratos flexíveis e planos de gestão de crises.

Redundância: manter estoques extras, capacidade de reserva e backups de suprimentos críticos minimiza o risco de ruptura no fornecimento. Investimentos em redundância são essenciais para resiliência.

Colaboração: trabalhar em estreita colaboração com fornecedores e clientes para compartilhar informações, planejar cenários e coordenar respostas a eventos climáticos ajuda a alinhar estratégias e minimizar impactos.

Tecnologia: adotar tecnologias como blockchain, IoT e análise preditiva para aprimorar a visibilidade, o monitoramento em tempo real e a coordenação da cadeia de suprimentos.

Sustentabilidade: implementar práticas legitimamente sustentáveis, como uso eficiente de recursos e energia renovável, reduzindo a pegada de carbono e o impacto climático da cadeia de suprimento.

Plano de contingência

A preparação para desastres é essencial para aumentar a resiliência de qualquer negócio. Isso envolve o desenvolvimento de planos de contingência detalhados que mapeiam vulnerabilidades, estabelecem protocolos de resposta e identificam fornecedores alternativos.

Os planos de contingência devem contemplar cenários como enchentes, incêndios, temporais e outros eventos climáticos extremos. Eles devem detalhar ações preventivas, procedimentos de emergência, equipes de resposta designadas e canais de comunicação.

Além disso, simulações e treinamentos periódicos são cruciais para testar e refinar os planos. Isso garante que as equipes estejam bem-preparadas para lidar com interrupções e continuem operando com o menor impacto possível.

Identificar e contratar fornecedores e transportadoras alternativos, em diferentes regiões geográficas, também ajuda a mitigar riscos. Assim, se um elo da cadeia de suprimentos for afetado, as operações podem ser redirecionadas rapidamente.

Uma preparação sólida para desastres, com planos de contingência abrangentes e parcerias estratégicas, é fundamental para construir resiliência e capacidade de recuperação com mais agilidade.

Aproveite para baixar gratuitamente este template em Excel que irá ajudá-lo a começar o plano de contingência do seu negócio.

Certifique-se de revisar o plano periodicamente para que ele não se torne obsoleto, recicle as equipes envolvidas com treinamentos anuais e terá em mãos um aliado que funcionará perfeitamente se – e somente se – for acionado.

Você pode se interessar – Plano de contingência: o que é e como elaborar para sua empresa

Apenas o gerenciamento proativo de riscos climáticos permitirá que sua empresa antecipe e minimize interrupções, proteja seus ativos e suas pessoas, reduza custos e mantenha sua competitividade e lucratividade em um mundo em rápida transformação devido às mudanças climáticas. A resiliência e continuidade do seu negócio dependem de uma abordagem estratégica para enfrentar esses desafios.

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