Transformação digital e o papel dos gestores financeiros

A história conta que, há mais de dois mil anos, Heráclito afirmou que “a única constante é a mudança”. Embora o ritmo da transformação possa ter sido mais sutil à época do filósofo grego, a verdade é que os ventos disruptivos da era digital hoje sopram com força em todos os setores. Por isso, transformação digital e o papel dos gestores financeiros neste cenário é o tema central deste artigo.

Afinal, como administradores encarregados de guiar suas organizações rumo à rentabilidade e ao crescimento, os gestores financeiros devem aproveitar o poder destes ventos digitais para definir o rumo certo. Contudo, grandes mudanças chegam acompanhadas de grandes oportunidades e uma boa dose de riscos. Novos concorrentes digitais já perturbaram muitos setores, deixando empresas, outrora bem-sucedidas, à beira do naufrágio.

Portanto, a transformação digital se faz necessária para atender às expectativas dos clientes e às condições de negócios em rápida evolução. Este artigo explora estratégias essenciais que os líderes financeiros podem empregar para preparar suas organizações para o futuro, ao mesmo tempo que proporcionam valor mesmo em meio às incertezas.

O ritmo da mudança está acelerando

A inovação tecnológica e a disrupção estão avançando a um ritmo acelerado e não precisamos ir longe: há apenas 15 ou 20 anos, conceitos como smartphones, redes sociais, nuvem e inteligência artificial eram ideias embrionárias, quase que utópicas. Agora elas são parte integrante de nossas vidas pessoais e de nossas operações comerciais.

O ritmo da mudança tecnológica não mostra sinais de abrandamento. Segundo algumas estimativas, até 50% das empresas do S&P 500 serão substituídas nos próximos 10 anos, à medida que surgirem novos concorrentes que priorizam o digital. Para empresas estabelecidas, isto requer uma navegação cuidadosa e adaptação contínua.

Ao mesmo tempo, os gestores financeiros precisam desenvolver suas próprias competências e perspectivas. O mercado já dispõe de recursos avançados para análise de dados, modelagem de cenários e muitos outros. Portanto, mostrar-se aberto para reexaminar pressupostos, estratégias e modelos de negócios é igualmente vital.

Prioridades da transformação digital e o papel dos gestores financeiros

Com a tecnologia avançando de forma exponencial, proatividade e visão de futuro são palavras-chave. E considerando que os líderes da área financeira têm um papel crucial a desempenhar pesquisas recentes indicam quais seriam as prioridades para os gestores que lideram estes esforços. Listamos algumas a seguir:

Tomar decisões baseadas em dados: para que a equipe financeira possa fornecer insights práticos que orientem a estratégia do negócio, é necessário lançar mão da análise de dados e da inteligência de negócios (BI). Mas isso só se tornar possível investindo em infraestrutura e em competências digitais.

Gerir riscos de segurança cibernética: com o aumento das ameaças à segurança de dados, os gestores financeiros precisam implementar processos robustos de segurança cibernética, que proteja ativos de informação críticos.

Adotar tecnologia de nuvem: a migração para a nuvem proporciona flexibilidade, escalabilidade e eficiência de custos.

Automatizar atividades financeiras: a automação e a inteligência artificial (IA) podem otimizar processos repetitivos, como reconciliações e relatórios. Isso aumenta a produtividade e permite que a equipe financeira se concentre em análises de alto valor.

Promover a agilidade e a inovação: os ciclos tradicionais de planeamento e orçamento são demasiado lentos para os negócios digitais. Desta forma, os gestores devem defender métodos ágeis e recursos dedicados à inovação.

Desenvolver talentos digitais: é fundamental melhorar as competências da equipe financeira. Parcerias educacionais podem desenvolver as habilidades técnicas necessárias.

Orçamento para inovar

Um desafio chave para os gestores financeiros na transformação digital é determinar como financiar iniciativas de inovação enquanto mantêm as operações do dia a dia. Tradicionalmente, os investimentos em inovação são feitos separadamente dos orçamentos operacionais. No entanto, no ambiente digital acelerado de hoje, incorporar a inovação ao orçamento principal é essencial. Aqui estão algumas estratégias que os líderes podem empregar:

• Realizar uma avaliação de prioridades: avaliar criticamente todas as despesas atuais e realocar fundos de áreas de baixa prioridade para transformação digital. Isso permite que a inovação seja financiada através de ganhos de eficiência.
• Adotar uma abordagem de portfólio: tratar os investimentos em inovação como capital de risco. Alocar uma porcentagem do orçamento total para um “fundo de inovação” usado para testar e escalar novas ofertas digitais.
• Focar os orçamentos em capacidades de negócio: em vez de orçamentos departamentais, financiar “capacidades de negócios” interfuncionais necessárias para entregar iniciativas digitais. Isso proporciona flexibilidade.
• Investir em integração: é importante que as verbas sejam usadas para unir os sistemas antigos com as novidades digitais, criando uma experiência sem emendas para o cliente. Usar APIs — que são como pontes entre diferentes programas — é essencial nesse processo.
• Financiar o desenvolvimento iterativo: é melhor investir um pouco de cada vez, fazendo testes rápidos e ouvindo o que as pessoas acham, do que gastar muito dinheiro de uma vez só. Essa maneira de testar, aprender e fazer melhorias é excelente para criar coisas novas e inovadoras.
• Considerar novos modelos de financiamento: é preciso olhar para além do modo tradicional de financiamento. Devemos considerar opções como capital de risco, crowdfunding, subvenções, parcerias e outras abordagens para financiar iniciativas de inovação emergentes, como a antecipação de recebíveis, por exemplo.

Tomar essas medidas permitirá que os gestores incorporem a inovação diretamente nos orçamentos operacionais, ao invés de competir por fundos de inovação separados e escassos. Repensar os modelos de orçamento é vital para o sucesso da transformação digital.

Tomada de decisão baseada em dados

O papel do gestor da área de finanças corporativas está evoluindo de supervisor financeiro para consultor de negócios estratégico. Portanto, isso exige a transição de decisões baseadas na intuição para o uso de dados e análises. Com o crescimento exponencial dos dados disponíveis, as equipes financeiras têm uma oportunidade sem precedentes de obter informações e insights valiosos.

Para os líderes financeiros, implementar processos voltados para a coleta e análise de dados é crucial, pois isso pode informar decisões estratégicas sobre onde alocar recursos para garantir o máximo retorno sobre o investimento (ROI). Além disso, compreender o comportamento do cliente através de métricas relevantes é essencial para avaliar a demanda do mercado. Isso porque esta compreensão auxilia na calibragem efetiva da estratégia da empresa. Como resultado, o uso de previsões inteligentes e modelagem preditiva se torna fundamental, promovendo agilidade em períodos de mudança rápida.

Análises avançadas e inteligência de negócios elevam a função financeira e, por isso, os gestores devem promover uma cultura orientada a dados em toda a organização. Investir em soluções tecnológicas e talentos com expertise em análise melhor equipa o líder financeiro para orientar tanto o planejamento operacional quanto o estratégico. Com os dados potencializando seu papel como consultores estratégicos, gestores da área de finanças corporativas se tornam parceiros integrais para implementar a transformação digital.

Como superar a resistência à mudança?

Fazer com que uma organização abrace a transformação digital requer liderança forte e habilidades de gestão de mudanças. Afinal, como líder financeiro, você desempenha um papel crítico em garantir a adoção de novas estratégias digitais em todo o negócio. Aqui estão algumas estratégias eficazes para guiar a mudança organizacional:

• Comunicar: reforçar continuamente os motivos da mudança e os benefícios que ela trará. Tenha um diálogo bidirecional para entender as preocupações.
• Alinhar a liderança: garanta o apoio do CEO e da equipe de liderança. O alinhamento desde o topo é crucial.
• Envolver os funcionários desde o início: não desenvolva planos de forma isolada. Engaje os stakeholders de diferentes departamentos na formação do roteiro de transformação.
• Tornar as mudanças relacionáveis: use histórias e exemplos para conectar iniciativas digitais aos impactos reais no trabalho e pontos de dor. Não torne isso abstrato.
• Celebrar conquistas rápidas: implemente movimentos rápidos que demonstrem benefícios imediatos, celebrando os pequenos sucessos sempre.
• Personalizar o treinamento: forneça coaching e treinamento específicos para cada função. Garanta que as pessoas tenham as habilidades necessárias para trabalhar de novas maneiras digitais.
• Observar bolsões de resistência: determinados times ou níveis podem resistir à mudança. Monitore sinais culturais e aborde problemas proativamente.
• Desenvolver KPIs digitais: estabeleça métricas para adoção digital atreladas a incentivos. O que é medido recebe atenção.
• Iterar de forma contínua: mantenha o processo de escutar as opiniões e sugestões de maneira constante e use essas informações para melhorar o plano de mudança.

Conclusão

É fundamental entender que realizar mudanças é um processo que acontece passo a passo ao longo do tempo, e não algo que se finaliza de uma só vez. Com as estratégias certas, os líderes financeiros podem guiar sua empresa por transições turbulentas com sucesso. Isso requer paciência e persistência, mas a recompensa da transformação digital vale a pena.

Fato é que a transformação digital já não é mais uma escolha para as organizações – é uma necessidade para sobrevivência e crescimento. Sendo assim, como guardiões da saúde financeira das organizações, os líderes financeiros têm um papel crucial a desempenhar nesta jornada.

Afinal, empresas que transformam como operam e entregam valor aos clientes estarão posicionadas para aumentar a participação de mercado em relação aos seus concorrentes mais lentos. À medida que a transformação digital acelera, os líderes financeiros devem abraçar seu papel como agentes de mudança para garantir que suas organizações não apenas sobrevivam, mas prosperem.

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